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segunda-feira, 23 de abril de 2012

Voyager


"Eu tive fora uns dias, numa onda diferente, provei tantas frutas que deixariam tonta".
H.Vianna (Expresso do Oriente)

Praticamente nasci na estrada. Já falei sobre isso antes? Antes mesmo de saber o que significava o termo "minha casa" já sabia o que era "a estrada". Quando pequeno enjoava com o cheiro de diesel queimado. Sempre gostei do cheiro da gasolina no posto. Meu pai sempre dizia que o cheiro da gasolina antigamente era melhor. Nunca saberei a verdade, não consegui cheirar a gasolina de antigamente.

Me faz falta essa estrada.

BR101, essa é a minha estrada. Não que seja de minha propriedade, apesar de ser um pouco minha e de cada brasileiro que por ela passou ou não. É como a música do Kleiton e Kledir (Deu pra ti) é um pouco de cada Portoalegrense.

Minhas viagens POA/CWA via terrestre começaram lá no início da década de 1980 e divide-se em três fases.

Morava na capital do Paraná com meus pais. Sendo do Rio Grande do Sul, as viagens pra visitar a família eram inevitáveis. Foram feitas com tantos carros. Me lembro mais das viagens com os Passats. Entre 80 e 86 não sei quantas vezes, inclusive de ônibus. Depois de 86 até 96 um número menor delas, mais turísticas. Essa primeira terça parte foi feita sempre como carona.

"Os Deuses jogam poker e bebem no saloon, doses generosas de BR101"
H.Gessinger (Lance de Dados)

Em 2004 começou uma segunda, quando fui com meu pai dirigindo até São Paulo. Passando é claro por Florianópolis e Curitiba. Já era acostumado a andar pelo RS cobrindo exposições de beleza. Naquele ano por exemplo foram cerca de 3 mil quilometros pelo interior. Mas só ir pra SP já seriam 1200!!!

Cada um em um carro, saímos de Porto Alegre as 9 da noite e chegamos em Floripa lá pelas 3 da madrugada. Eu numa Doblô e ele numa Sprinter, levando os carros pra uma feira de pesca. Chegamos em São Paulo as 6 da tarde. Voltamos de avião.

Dois anos depois começaram as viagens de Agility. Quando o Aurélio veio com a idéia de ralar esses 1200km de cara aceitei. Nasci na estrada, isso é a minha vida. Fico feliz de estar rodando. Fazer estratégias, calcular horários e tals. Logo eu, ineficiente na matemática. Mas essa fase que durou até meados de 2010 (novembro), foi meio paranóica.

Era infernal, principalmente no início. Saída na sexta-feira dirigindo na madruga, chegada algumas vezes no sábado direto na competição. Dois dias de provas e saída ainda no domingo retornando pra casa. A ida era barbada. Notívago assumido adorava passar as noites nessa tarefa solitária, nem sempre reconhecida. Noites a dentro cantava alto minhas músicas preferidas, de um CD cheio de MP3 que nem eu aguentava mais escutar, e ninguém acordava! Só os deuses da 101 e os diabos da 116 como ouvintes.

Nesses três anos rodamos o equivalente a duas voltas em torno da terra. Hoje contando tudo seria possível, se possível fosse, ir a Lua (!!!) na somatoria das distâncias.

"Tendo a Lua aquela gravidade aonde o homem flutua, merecia a visita não de militares, mas de bailarinos, e de você  eu"
H.Vianna (Tendo a Lua)

Em seguida, a partir de 2009, passaram a ser mais lights, iniciando o último terço de histórias. Ainda saíamos a noite, viajando na madrugada, menos movimento igual a maior eficiência. Tanto de tempo quanto de combustível. A diferença entre rodar a noite e de dia pode facilmente chegar aos 100 reais no final dos 2400km. Durou até o acidente. Dali pra frente fiquei cagão. Viajar a noite passou a ser uma opção pouco racional. Morrer por aquilo que me mantém vivo? Heroico, todavia (todavida) de uma burrice indesejável.

Essa terceira fase foi uma descoberta de novas viagens. Meio parecidas com as que fazia quando era pequeno, porque o Théo estava na maioria delas. Então me vi nos mesmos locais em que estava 30 anos atrás com meu pai. Basicamente uma terapia. Fazendo as mesmas coisas e vendo que ele também adora tudo. Querendo saber onde estava, o que é aquilo, isso, e melhor perguntando "quanto tempo falta pra chegar?".

Diferentes lugares, paisagens, costumes, experiências. Quando ele for "grande", quando tiver a minha idade talvez faça esse paralelo. Imagine como era difícil e como pode ser fácil. Como era fácil e difícil ao mesmo tempo.

Tão difícil quanto ficar sem agility é ficar sem viajar.

"escute garota, façamos um trato: você desliga o GPS se eu ficar muito abstrato"
H.Gessinger (Infinita Highway)

5 comentários:

  1. Essa sua crônica do Fabiano merece destaque em cadernos especiais de jornais e revistas. Muito bem escrita levando-nos a imaginar suas aventuras por essas estradas, já que você nos leva a isso com sua descrição romanceada dessas idas e vindas não só para o agility mas, também, com outras finalidades.

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  2. Muito bom!!!
    Vai pegar a estrada semana que vem?!

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  3. Sem estrada Dani... embora não nos faltasse vontade!

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  4. Eu já gostei mais de pegar a estrada... Essa coisa de agora eu ter que voltar correndo de São Paulo para ter que trabalhar, acaba me causando um estresse físico e mental maior do que eu gostaria. Por fim, viajar acabou meio que sendo palavra traumática no meu dicionário. Mesmo nas férias.

    Espero mudar isso em breve.

    Também acho uma pena não nos vermos em Itu. Não sei ainda quantos Brasileiros participarei, essa seria uma oportunidade de nos encontrarmos.

    Mas... O sítio 'tá quase pronto. Não todo, menos do que eu esperava, mas o suficiente para, daqui a pouco, poder receber alguns amigos "pingados" (queria que fosse logo um "muitão" tudo junto! *rs*).

    Aí espero que você, Théo e Vívs venham nos visitar! Se Deus quiser, ainda esse ano, minha pistinha de agility estará pronta e faremos OS treinos! *rs*

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